Entender como esses conceitos funcionam ajuda na hora de optar pela melhor oportunidade de investimento em crédito

Quando você avalia uma oportunidade de investimento em crédito na Mutual, provavelmente o primeiro item que analisa na tela do marketplace é o retorno da operação, certo? Mas, você sabe como é calculado esse retorno do investimento?

O percentual indicado no aplicativo é, simplesmente, o valor total a ser recebido pelo investidor dividido pelo valor que ele investiu. Por exemplo: se você investiu 1.000 reais na cota de um tomador de empréstimo, e ele irá pagar em 12 parcelas de 90 reais, o retorno total da operação será de:

12 parcelas * R$ 90 = R$ 1.080 de valor total a ser recebido
(R$ 1.080 / R$ 1.000) -1 = 1,08 – 1 > 0,08% > 8%

Portanto, uma taxa de retorno líquida de 8% ao ano.

É muito comum os investidores usarem o retorno líquido como uma referência na hora de comparar com outras taxas. Por exemplo, na data de publicação deste post, o CDI estava em 1,9% ao ano. Assim, um investidor poderia dividir 8% por 1,9%, e pensar que esse empréstimo está rendendo “421% do CDI” ou “pouco mais de 4x o CDI”.

Porém, por mais comum que seja esse tipo de comparação, ela é incorreta 

O motivo disso é que no caso de aplicações que tenham como referência o CDI (como Tesouro Direto ou CDBs), você só manterá essa taxa de retorno caso receba o valor investido ao final do empréstimo de uma só vez. Já no exemplo do investimento da Mutual, logo no 1º mês você já começa a receber de volta a sua 1ª parcela.

Esse valor que é pago antecipadamente pelo tomador é muito útil, pois permite que você já possa gastar ou reinvestir rapidamente uma parte do valor que você emprestou. Colocando em um exemplo prático: digamos que você empreste 600 reais para um amigo que precisa de um dinheiro de emergência, com juros simbólicos de 36 reais em um ano. Você prefere que ele lhe pague 636 reais de uma só vez daqui a 12 meses ou todo mês durante 12 meses, recebendo 53 reais na sua conta?

Certamente, o recebimento mensal soa mais atrativo. Na matemática financeira, esse é um conceito que se chama “valor do dinheiro no tempo”. Ter uma quantia de dinheiro no momento atual ou mais próximo do momento atual é sempre melhor do que só ter essa mesma quantia daqui a muito tempo.

Portanto, voltando ao exemplo inicial: já vimos que dizer que o retorno de 8% é “4x maior” que o CDI a 1,9% a.a. é incorreto, pois não leva em consideração a vantagem do recebimento mensal. Mas, então qual é o cálculo que deve ser feito para comparar esses dois diferentes tipos de aplicações financeiras?

Para isso, entramos em outro conceito: a taxa de retorno bruta

Digamos que o seu mesmo amigo dessa vez pediu 2.000 reais para consertar o carro. Porém, ele prometeu pagar juros bem mais altos, de 5% ao mês. Você aceita e após 30 dias ele vai até você para pagar os juros do 1º mês. O cálculo desses juros é:

5% (taxa de juros mensal) * R$ 2.000 (valor financiado) = R$ 100 reais de juros

Só que o seu amigo lhe faz uma proposta: ao invés de pagar apenas 100 reais de juros, ele decide lhe pagar, adicionalmente, 125,65 reais de amortização do empréstimo, para quitar uma parte da dívida. Assim, ele paga para você no total 225,65 reais, sendo:

R$ 100 de juros e R$ 125,65 de amortização

Ou seja, ao invés do valor da dívida ser 2.000 reais, agora ela diminuiu para 1.874,35 reais, que é a diferença de 2.000 reais menos 125,65 reais. Já no segundo mês, ele paga novamente os juros. Porém, dessa vez o valor da taxa foi mais baixo. Pois, como o valor de dívida era de 1.874,35 reais, ele ficou em:

5% * R$ 1.874,35 = R$ 93,72

Mas, o seu amigo, contente em pagar menos juros na 2ª parcela, decide novamente pagar um valor total de 225,65 reais e dessa vez a amortização foi ainda maior:

R$ 225,65 de valor pago – R$ 93,72 de juros = R$ 131,93 de amortização

E assim a dívida total diminui de:

R$ 1.874,35 – R$ 131,93 = R$ 1.742,42 de dívida atualizada

E assim, ele prossegue ao longo de 12 meses, sempre pagando o valor de 225,65 reais em cada parcela. A cada pagamento ele diminui o valor dos juros e aumenta o valor amortizado, até quitar todo o empréstimo conforme a tabela abaixo:

Ao final do empréstimo, você decide calcular a sua rentabilidade. A princípio, ela foi de 5% ao mês, afinal, era a taxa de juros que estava incidindo sobre o valor financiado, certo? E, considerando o prazo de 12 meses, esse 5% ao mês, com os juros compostos (1,05 elevado na 12ª potência), deveria dar uma taxa equivalente a 79,58% ao ano.

Porém, para a sua surpresa, ao dividir o valor dos juros (R$ 707,82) pelo valor financiado (R$ 2.000), o seu retorno fica em:

R$ 707,82 / R$ 2.000 >  0,3539 > 35,39%

Portanto, apenas 35,39% de juros em um ano, menos da metade da taxa de 79,58%! Além disso, ao dividir 35,39% por 12, o percentual mensal fica em 2,94%, bem abaixo dos 5%. Qual o motivo pelo qual existe uma discrepância tão grande entre os juros que você estava cobrando e os juros que você efetivamente recebeu?

A explicação é simples: a diferença existe porque o seu amigo ficou constantemente diminuindo o valor total que ele devia, através do pagamento de um valor de amortização em cada parcela.

Ou seja, a sua taxa até pode ter sido de 5%. Porém, primeiro ela foi 5% sobre 2.000 reais; depois 5% sobre 1.874,35 reais; 5% sobre 1.742,42 reais e assim por diante. Assim, em troca da vantagem de estar continuamente pagando mensalmente, o tomador – seu amigo – pagou menos juros. O que não quer dizer que tenha sido uma troca ruim para você, afinal, em contrapartida você recebeu a maior parte do valor emprestado bem antes de ser completado o prazo de 12 meses.

Portanto, essa é a diferença entre a taxa de retorno bruta e a taxa de retorno líquido

A sua taxa bruta (os juros em si) foi de 5% ao mês / 79,58% ao ano, porém o retorno líquido (valor recebido/investido) foi de 2,94% ao mês / 35,39% ao ano, por causa do sistema de amortização constante.

O termo técnico para este tipo de cálculo no mercado de crédito é Tabela Price, e é a tabela utilizada na Mutual em todos os empréstimos no aplicativo. Ou seja, em todos as nossas operações de investimento em crédito existe uma taxa de retorno bruta (o retorno se não houvesse a vantagem do recebimento mensal) e a taxa de retorno líquida (o retorno com a vantagem do recebimento mensal).

Portanto, voltando ao exemplo inicial: para que um empréstimo de 1.000 reais tenha exatamente 12 parcelas de 90 reais, a taxa bruta dele não deve ser de 8% ao ano, mas sim 1,204% ao mês ou 1,204^12 = 15,44% ao ano (considerando os juros compostos).

Veja como a tabela price do empréstimo se comporta:

Perceba que o valor dos juros em cada parcela é sempre o valor restante de amortização da parcela anterior, multiplicado por 1,204%.

Ou seja, a rentabilidade líquida pode até ter sido de 8% ao ano. Porém, a taxa bruta é de 15,44% ao ano, e essa é a taxa que deve ser usada ao ser comparada com o CDI, o qual também não tem a vantagem do recebimento mensal. Portanto, não é um empréstimo de “421% do CDI”, mas sim de “821% do CDI”, o que com certeza é muito mais expressivo.

Portanto, sempre que você for avaliar uma oportunidade de investimento na Mutual, se atente se a informação de retorno disponibilizada no marketplace ou no relatório detalhado da operação é a taxa bruta ou a taxa líquida do empréstimo, o que pode fazer toda a diferença na hora de escolher onde investir o seu dinheiro.

Bons investimentos!

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Posted by Luciano Rolim

Coordenador de Operações PJ na Mutual

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